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  • Do ponto de vista da insurg ncia a resposta

    2019-06-18

    Do ponto de vista da insurgência, K-115 resposta governamental se encaixava perfeitamente à leitura política sustentada por Guzmán. O “presidente” pregava que a ação senderista explicitaria a violência estatal, constrangendo o campesinato a se levantar contra o Estado e em última análise, tomar as cidades. Esta análise alcançou tons extremos nos anos seguintes e motivou ações de destrutividade insuspeitada. Assim, quando Alan García assumiu a presidência em 1985 e anunciou uma nova estratégia de combate à insurgência, cuja ênfase seria no desenvolvimento social, Guzmán respondeu que seria preciso “quitarle la careta progresista”. O levante simultâneo de senderistas encarcerados nos dias em que o apra recebia um congresso socialista em Lima, episódio que terminou na execução de trezentos presos, foi concebido com este objetivo. Segundo esta racionalidade o levante foi exitoso, pois houve uma escalada repressiva do Estado, atestada pelo número de assassinatos de motivação política, que se elevou 5.4 por dia em 1987 para 8.8 em 1988 e 9.4 em 1989. Enquanto isso, Guzmán proclamava que “la sangre no detiene la revolución, sino la riega”, e estimava que a revolução poderia custar um milhão de vidas. O líder senderista encarava a militância de esquerda sob um prisma similar: como pelegos que arrefeciam o aguçamento das contradições sociais, retardando a via revolucionária. Consequentemente, o movimento perseguiu e assassinou centenas de dirigentes sociais e políticos de esquerda. Mais chocante, a racionalidade senderista determinava que muitas vezes não bastava matar, mas era preciso fazê‐lo de modo exemplar: assim, a líder popular afroperuana Maria Elena Moyano foi dinamitada na presença dos filhos. Se retrospectivamente é evidente o caráter antipopular da insurgência senderista, que pode ser qualificada como terrorista pela esquerda contemporânea, nos anos 1980 esta leitura não foi imediata. Afinal, como analisa Degregori, Sendero surgiu como uma surpresa tripla: para o Estado e os serviços de inteligência; para os partidos políticos e as organizações sociais; para a resolution comunidade acadêmica de ciências sociais. Entre os fatores que dificultaram uma percepção acurada sobre a natureza desta insurgência, salientam‐se três: a retórica marxista em um país de rica tradição socialista, em meio a uma conjuntura que se radicalizava; o isolamento de Ayacucho em relação à costa; os preconceitos andinistas, confundindo Sendero como um movimento milenarista ou indigenista. O cenário se tornou ainda mais complexo com o início das ações K-115 armadas do Movimiento Revolucionario Tupac Amaru (mrta) em 1982, uma organização guerrilheira urbana de corte convencional, cuja atividade cresceu no governo Alan García. Embora a peculiaridade e a destrutividade senderista fossem evidentes para aqueles que tinham contato direto com o que ocorria em Ayacucho, muitos não tinham. Para esses, somente quando as ações em Lima se intensificaram tornou‐se claro que Sendero era um desafio de dimensão nacional. Isto ocorreu no final dos anos 1980, quando Guzmán avaliou que o confronto se aproximava do “equilíbrio estratégico” e intensificou os esforços para penetrar a periferia de Lima, com a intenção de estabelecer uma espécie de cinturão popular insurgente em torno da cidade. Ao contrário do que parece, esta decisão correspondeu a um momento em que as posições rurais da organização encontravam‐se ameaçadas em função da crescente resistência camponesa, principalmente na forma das rondas campesinas. Pois neste mesmo período o Estado mudou sua estratégia, e sem deixar de praticar a “guerra suja”, investiu em inteligência e construiu relações de apoio com estes organismos camponeses, que se converteram em Comités de Autodefesa Campesina (cad). Ao contrário de seus similares colombianos, estes comitês não derivaram em esquadrões paramilitares delinquentes e tiveram um papel decisivo para a derrota senderista.